sexta-feira, 5 de junho de 2020
Quando os sentidos falham diante da dor.....Foi numa noite e só tinha eu....me lembro que quando eu morava com minha vó na rua Gustavo Maciel, quadra 20, escutei uns gritos.Fui testemunha de uma viatura policial espancando uns meninos negros.Sabe o que eles fizeram?Obrigaram os meninos tirar a meia e enfiar na boca para não gritar.Mas, eu estava lá, ...levantei da cama e fui para a calçada de pijama.Eu vi....não tinham inventado o celular.Fiquei parada, olhando fixamente.Não gritei e não chorei.Só dei meu olhar com toda força desse mundo.Eles, os policiais, se incomodaram com meu olhar e pararam.( a policial era a mais violenta, sim era uma mulher, tinha homem também, mas a mulher era a pior)Foi num dia, e tinha muita gente:...eu estava entrando na adolescência e comecei a namorar um moço de pai negro e mãe branca.Ouvia de alguns parentes:''se arrumando assim para se encontrar com esse negrinho?'''' ...alá, ela tá toda bonita para encontrar um macaco!'' Eu ouvia...e nada dizia.( minha mãe nunca fez pacto com essas declarações)...eu ouvia e saia com meu namorado.O olho segura a lágrima, e ela não desce, fica parada no canto, como se tivesse receio de escapar.A boca seca, a goela trava, a palavra também não sai.O pensamento entra em colapso.Diante de nossas tragédias diárias, temos muitas reações físicas, emocionais e mentais.Estamos assistindo em plena luz do dia tudo que sempre existiu no calabouço de nossa humanidade.Nos indignamos com a patroa, com o policial e com comentários validando tais posturas, porque os fatos da vida real estão sendo filmados.E se não tivesse testemunha?Um celular na mão na hora certa.A câmara de segurança do elevador.Estamos horrorizados.Mas este horror está atrasado.Não tem nada novo acontecendo.Isso tudo, sempre esteve do nosso lado, o racismo presente dentro de nossas casas, os gritos da violência abafados com meias dentro da boca.A luz está mostrando o que sempre existiu e nossos sentidos estão assistindo, atônitos.Benditas lentes que capturam e eternizam tudo que nossos olhos não queriam ver.Bendito gravador que grava uma voz que não cala.O racismo, o fascismo, a violência, os privilégios já não estão conseguindo respirar neste mundo.Ufa.... Estão presentes, eu sei.Mas vão morrer sufocados e vão despencar e cair....Sabe quando o cupim começa a devorar a mesa da sala, e a gente finge que não vê.Apenas varre a sujeira, todo dia...A mesa ainda nos serve, né?Pois é...O cupim invadiu a casa toda.A casa vai cair.E o cupim vai morrer queimado pelo sol.A luz fará a assepsia necessária para esse planeta.Vivi Ame, Viviane Mendes
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