quarta-feira, 21 de outubro de 2020
Eu devia ter uns dez anos, entrei no hospital de cadeira de rodas.Fui diagnosticada com febre reumática.Ou, reumatismo no sangue.Bati 42 graus de febre.Fiquei internada por 12 dias.Eu era tão apegada com minha avó que me lembro do médico, olhando para a tristeza dela e disse:-Dona Eugênia, eu sei...ela é a menina dos seus olhos!Minha avó engoliu o choro.O médico saiu, ela me perguntou:-Vivi, o que você quer comer amanhã?Eu respondi:- Arroz com creme de milho!Eis que no dia seguinte ela aparece no hospital com uma sacola e me disse bem baixinho:-Comprei um fogareiro, vou esquentar sua comida dentro do guarda roupa!...ela sabia que eu gostava de comida queimando a língua.Tive alta, e o médico prescreveu 10 anos tomando Benzetacil, uma vez por mês.Foram 120.De lá para cá, muita coisa aconteceu.Mas....minha paixão por arroz com creme de milho, feito na hora saindo fumaça permanece feito tatuagem na pele.Fiz arroz.Fiz creme de milho.Comi beeeem quente!Me sinto no colo da minha avó.A comida alimenta um sentimento sem nome.Não confundam com saudade.O que sinto é uma sobriedade de quem sabe contar com vírgulas, todos os fogareiros que foram acesos dentro de guarda roupa de hospital.Meus sentimentos são de alta periculosidade.Sei deles...e eles me acompanham...sem nomes.Não tem como batizar alguns sentimentos.Eles nascem e nunca assinam nenhum papel.Meus sentimentos são feito impressão da digital.Vivi Ame, Viviane Mendes
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