quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A cadeira de rodas vazia.Abandonada em cima do viaduto.Tenho vontade de falar uma frase solta.Solta...no meio do nada.O começo, meio e fim....é cansativo.Tem que ter muita disciplina.E eu tenho.A frase solta, é como no meio do dia, tomar um gole de vinho.Sabe, não é sentar para beber.Sem nada, nem uma comida para acompanhar.Não é apreciar uma taça....é só um gole.Uma frase solta feito pipa sem linha.Falar de um arrepio sem ter que dissecar o sentimento.Contar do mal jeito na coluna sem contar o peso carregado.Desabafar sobre a insegurança sem mostrar fragilidade....até porque, cansa.Cansa lutar para o cabelo ser a melhor moldura para o rosto que está cansado.O cabelo precisa de reparo.Cansa pensar em que roupa vestir quando se precisa pensar em que roupa vestir.Cansa procurar o melhor ângulo.Cansa o curta metragem da vida real.Na cidade onde eu moro, quem andava na cadeira de rodas foi jogado de cima do viaduto.O corpo se espatifou.Morreu.A cadeira de rodas, assistiu a cena.Cansada, a cadeira ficou arreada nas duas rodas.Cansado ficou meu olhar.Cansado ficou o arrepio que eu senti no corpo.O homem que foi jogado, vendia balas.Até as balas deviam estar cansadas de ficar no colo dele, na esperança de serem compradas para adoçar a boca de alguém.Ficou um gosto amargo.Não tem bala que tire esse mau hálito.Sem as duas pernas, sem defesa, sem cadeira, sem bala, sem vida.E assim, a humanidade segue seu destino...passando em cima do viaduto.Poderia ser um filme de terror.Mas aconteceu na manhã dessa quinta feira na cidade de Bauru.A frase solta, foi um homem, sem as duas pernas solto no ar...Vivi Ame, Viviane Mendes

Nenhum comentário:

Postar um comentário