Aconteceu numa tarde de pandemia:
Dentro da caixa preta, encontrei vozes gravadas.
Ouvi.
Minha avó me dizia que estou ficando igual a ela, abaixando para catar qualquer cisco que tenha caído no chão.
Minha mãe dizendo: o corpo é seu e você faz o que quiser e evite o auto elogio.
Escutei meu pai...que nunca ouvi pela morte prematura, mas me deixou recomendações por escrito.
-Não perca posse de si mesma.
Dei ouvido até para a tinta amarela que teimou em entrar no quadro.
Dentro da caixa preta, escutei o que meu bom senso recomendava para o almoço.
Mudei de ideia porque não sou meu bom senso.
Ouvi um gemido, era meu joelho pedindo para alongar.
Escutei a voz do mundo, era muito barulho, nada eu identificava como seguro.
Ouvi um tambor, era meu coração.
Resolvi criar uma musica.
Afinal, tantas vozes...
O problema é que muitas estão desafinadas.
Arrisquei lacrar a caixa preta.
Fui para o jardim, catei um ramo de arruda prendi no cabelo e pedi para ela cuidar de mim.
O alecrim me olhou de atravessado como se fosse me recomendar juízo.
Abri meu coração para ele, pedi perdão pela situação.
Não quero vozes que ficaram guardadas na memória e que da minha vida de agora, nada sabem.
Quero som que sopra em silêncio...
Como se eu estivesse nascido ontem.
Quero ser como a rosa.
Esbanjando minha vulnerabilidade sem medo.
As rosas crescem com as podas.
Tive medo, e Senhor Deus...
Gracias por me livrar de ser uma bela flor de plástico enfeitando a casa e confundindo as visitas.
Aqui onde essa bota pisa, é chão de terra batida.
Se tudo me é sagrado, onde mora o meu pecado?
Vivi Ame, Viviane Mendes
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