terça-feira, 8 de dezembro de 2020
...eu acordava meio dia....Não tive tempo de ter a inocência infantil.A realidade emocional se impôs com autoridade.Não tive tempo para festas na adolescência.As responsabilidades afetivas caíram no meu colo.Saia mais cedo da escola, matava aula para ajudar minha avó a subir a rua íngreme com o carrinho de feira.Ela tinha a coluna torta, perdia o equilíbrio e caia na rua.Pele fininha, ficava toda machucada.Eu escapava da aula para evitar esses acidentes.Minha avó era onde a vida me dava uma trégua. ...sempre foi.Mas...não tive tempo.A gratidão por ela me fazia acordar meio dia.Acordava na hora do almoço porque eu levantava inúmeras vezes na madrugada para ajudar ela no banheiro.Ela caia.Perdia a noção, queria ir para a rua.Eu, ajudava ela a escovar a dentadura e com paciência tentava convencer que ainda não era dia.Ninguém sabia.Fiz em silêncio... e meu amor se converteu em atos.Fui neta.Além dos vínculos familiares, foi a gratidão que fez eu lhe preparar o jantar, descascar a ponkan e comprar no mercado a bala de leite que ela gostava.Acho um luxo quem corre atrás dos seus sonhos.Eu não tive tempo.Cada pincelada que eu dava eu pensava que eu precisava arrumar dinheiro para pagar a pesada prestação do consórcio do carro.Num tive tempo de sair para arrumar namorado.Por não sair, conquistei a fama de um certo "ar blasé"Parecia que eu era auto suficiente demais.Eu tinha meus horários alinhados com a idade da minha avó. Ninguém sabia.Mas...Eu, não me fiz sozinha.A vida me segurou as pernas.Não corri atrás dos meus sonhos porque eu nem sabia o que era sonho.Eu dormia acordada.Levantava tão assustada com os tombos da minha avó que eu "apagava".A vista escurecia...Caia no chão por alguns segundos, me recuperava e erguia ela.Assim foi.Pequenos desmaios no chão de taco do quarto.Ou no piso verde do banheiro.Nunca teve tapete para evitar dela escorregar.Entretanto sempre teve algo entre eu ela que amortecia as quedas e os golpes da vida.Demorou para eu saber que era permitido dormir uma noite inteira.Depois que me mudei para cá, ainda tive dois pequenos desmaios ao acordar no meio da noite.Aos poucos fui me desvencilhando do passado.Não tive tempo.Mas sempre tive gratidão. A arte, sem estudo, me veio de brinde.A vida, meus amigos, é justa.Hoje, eu tenho tempo para sonhar.Mas...virei gente antes.Isso, eu confesso:Acho um sucesso!Num tive tempo, a verdade é essa.Tive realidade demais.Vivi Ame...Viviane Mendes
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