segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
Ela tinha uma habilidade incrível para me fazer sorrir...Era quase uma afronta eu rir diante da honestidade das lágrimas....na rodoviária de São Paulo, ela com câncer avançado.Tínhamos ido fazer uns exames...demos um rolê lá pela 25 de março, compramos 2 colares indianos, um preto e outro azul, hoje estão dependurados na parede verde esmeralda do meu banheiro. Isso foi em 2007.Feliz pela compra, fomos de táxi pra rodoviária. Falei:...mãe senta aqui que eu vou ali comprar as passagens.Ela estava fraca, mas espírito forte. Comprei o bilhete e encontrei ela de prosa com uma moça que também vinha para Bauru.A moça sem mala carregava apenas um pote. Um pote com as cinzas da mãe. Fala sério??? Eu ali sabendo que minha mãe estava quase entrando na fase terminal....Entramos no ''Expresso de Prata'', eu e minha mãe com sacolinhas fajutas da compra na 25....e a moça com a austeridade do pote.Eu evitava olhar pra moça, se ela me olhasse nos olhos ela ia ver minha dor...Era meu espelho, um futuro que já me capturava e me agarrava pelas pernas.Minha mãe usava peruca.O cabelo que ela amava a quimio já tinha derrubado.Modéstia a parte, fui muito competente em ter encontrado uma peruca idêntica ao cabelo da minha mãe. Tava calor, o ar condicionado deu pau....a moça com o pote de cinzas da mãe. Minha mãe resolve tirar a peruca, assumiu a careca e tirou onda com o moço que passava no corredor.Ela acariciava a peruca como se tivesse com um cachorro peludo no colo.Ela se divertia com o olhar curioso do homem.Num banco a moça silenciosa com as cinzas... Minha mãe nesse teatro...Eu sem saber se estava num drama ou numa comédia, a vida real sempre foi minha arte preferida.Mas...eu queria encontrar essa moça, olhar, abraçar e chorar.Chorar um choro atrasado feito fome de nordestino.Tem choro que não tem fim.Vivi Ame.
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