FIZ DA MORTE MINHA AMIGA.
Não se assustem, não vou me matar na semana do meu aniversário.
E se fosse, ''seria na moita''...acho mais chique...precisaria envolver um certo glamour, afinal...eu não abriria mão de sair estampada pela derradeira vez na capa do Jornal da Cidade de Bauru.
Mesmo depois de morta meu ego talvez sobreviva.
Também não é o caso de depressão, creio que tenho incompatibilidade com essa daí.
Acho mais econômico eu ''bancar de felizinha''
O que faz eu ser como sou, ou pelo menos o que dizem sobre mim:
Criativa, cheia de vida, bem humorada, etc... é justamente a consciência de la muerte.
Sou órfã de pai e mãe...não precisa ter peninha...eu já sou crescida, faço 45 anos nesta semana.
Sempre quis escrever sobre a morte.
Lidei com a morte que chega de supetão, meu pai morreu aos 27 anos de acidente de carro.
Assisti de camarote vip a morte anunciada, minha mãe morreu de câncer aos 61 anos.
No meio disso os avós paternos e maternos.
Enterrei 3 cachorros...se alguém me ver super esbelta, magra, barriga negativa... não é regime nem academia, é bicho que morreu...eu ''esmagreço''
Esse meu texto tem alguns objetivos que não giram em torno dos meus draminhas pessoais.
A morte é inevitável.
Achei melhor me acostumar...
Acho que se deve ensinar as crianças sobre a morte.
Quando meu pai morreu mandaram um padre falar comigo, eu tinha 3 anos de idade.
Ele disse:
''Seu pai virou estrelinha e foi morar no céu''
Eu não consegui entender.
Se fosse hoje, eu diria:
Vai se fuder...me explica isso direito!
Essa não explicação teve consequências...me senti abandonada, achei que o coitado resolveu me deixar, sem se despedir e...virar ''estrelinha''
( coisa de gay...virar estrelinha e ir morar no céu, e gay egoísta porque não me levou junto.)
Fiquei com raiva e ciúmes do céu.
No caso da minha mãe, estudei profundamente o câncer e os medicamentos que pudessem acabar com a raça dele...1000 terapias alternativas e o diabo a 4...enfim...percebi que ''não iria virar''.
Percebi que minha tática teria que ser outra...eu precisava ajudar minha mãe morrer...estudei a morte, livros e livros...até o famoso ''livro Tibetano dos mortos'' fiz mestrado no assunto.
Mas, principalmente: amor, desapego e compaixão.( 3 palavras mágicas)
E consegui ajuda-la...só Deus sabe como...
Minha mãe era engraçada...
Logo depois que ela morreu a gente se encontrou e eu explicava que ela tinha morrido...tal e coisa, coisa e tal.
Ela estava chateada porque eu tinha dado todas as roupas dela...eu explicava:
Mãe, você morreu, não precisa mais das roupas, procura se acostumar...tem tanta gente que você conhece que esta aí...procura as pessoas daí.
Ela me respondeu:
Viviane, aqui só tem gente morta!
Tipo assim: Morri, não nego. Mas...vou ter que conversar só com morto daqui pra frente? Me questionando com ironia.
Demos risadas...foi ótimo.
Sim...a morte pode ser leve, até com uma certa dose de humor, afinal a morte é uma piada.
Você pode levar um trupicão na esquina...e já era. A gente vai e o resto fica...as contas para pagar, a latinha de azeite nova, o hidratante caro que a gente usa só um pouquinho.
Se eu pudesse escolher, não gostaria de deixar nenhum quadro pela metade...aí me lembro de Gaudí que morreu sem concluir a ''Sagrada família''
Bão...se Gaudí ''sobreviveu''...quem sou eu?
Quando eu era criança eu li uma frase que dizia assim:
''sábio é o homem que passa sua vida preparando sua morte''
Eu sei que um dia , como diz o tal padre amigo da onça:
''Vou virar estrelinha e o céu vai estar em festa''...
Puta conversa fiada...
Eu resolvi fazer a festa aqui.
Ser estrela e brilhar aqui.
Aqui e agora...
Depois eu não vou estar viva para ver.
Viviane Mendes.
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