Queria tanto um rivotril.
Lexotan, sertralina.
Qualquer faixa preta que me desse um abraço.
Maconha, cocaína... qualquer coisa que me pegasse pela mão e dissesse:
- Confia, vem comigo!
Feito camisa de força que nos leva ao exílio de nossas dores.
Mas não.
Escolhi o caminho sem anestesia.
Sei lá...será que tem algum mérito?
Ou é burrice junto com arrogância?
Vai ver eu ainda vou tropeçar na barra da saia que insisto em desfilar.
Ascendi uma vela rosa.
De joelhos rezei, uma reza difícil.
Pai Nosso, seja feita a sua vontade.
...quase que eu não falo essa parte.
Queria minha vontade.
Muito luxo, né?
Pedi.
Para todo amor que existe em meu ser banhar meu gato.
Um gato.
Filho do cio.
A mãe, se chamava Diaba, arisca.
Ela amava o Sonso.
O Sonso eu peguei fácil, mandei castrar.
( O Sondinho era fácil de lidar)
O gato Catatau, comeu a Diaba no telhado.
Engravidou.
Sexo sem amor.
E com o Sonso assistindo...
A Diaba abandonou os filhotes.
ASSUMI O CASO.
Uma ninhada.
Ele era meu filho.
O único que segurava a mamadeira com as patas.
Nunca saiu.
Desde 2008, dorme comigo.
Eu dei mamadeira.
Procuro ele por todo lado.
Sinto sua ausência.
Na música do poeta, naquela mesa tá faltando ele, e a saudade tá doendo em mim, virou realidade.
Abri um tinto pra combinar com o roxo da perna.
Vesti meu pijama rosa para combinar com a vela.
Chove por dentro para combinar com o dia.
Meu gato amarelo está do lado, para iluminar meu breu.
Até o Negão desceu do telhado e veio se sentar a mesa.
O Neguinho, me observa de cima do guarda roupa, feito anjo da guarda.
A Lizinha e o Linguine, brincam, tentam me distrair.
...são inocentes.
O Jorge, me olha feito monge budista me cobrando a compreensão da impermanência.
O Puma, mia chorando, afinal chantagem sempre funciona.
O Patrick, frio, calculista come e vai embora, me agradece com os olhos.
E eu...
Me acostumo com todas presenças.
Apesar da ausência.
Ausência que me faz pertencer a humanidade.
E sentir uma dor universal.
A dor de não saber o que aconteceu.
A gente sorri.
Leva a vida.
...com o coração do tamanho duma ervilha.
Maldita hora que eu fui me apaixonar!
Não creio que tive escolha.
Foi destino.
Me apaixonei pela palavra lucidez.
Pago o preço com juros e correção monetária.
Parcelas infinitas.
Engulo o vinho seco junto com o choro.
Na garganta em chamas, as labaredas, sem extintor de incêndio, queimam.
E vão reduzindo a cinzas meu apego.
Até que eu entenda, e aprenda que com o amor, não se discute.
Apenas aceitar sua totalidade.
...já é uma boa nota nessa escola.
Catatau, o pai, um dia, sem mais nem porquê, sumiu numa noite de luar.
A mãe, a Diaba, desapareceu da noite para o dia.
Ele, meu filho, Zé, teria o mesmo destino?
Será que esse papo de genética, ancestralidade existe no mundo dos gatos?
Minha alma está lutando...para não ficar roxa por dentro.
Tem sentimentos que são uma batida tão forte que nos imobiliza.
Tem hora que me falta ar.
Angústia é um sentimento roxo.
Nos asfixia.
Alguns sentimentos são coloridos.
Angústia, posso afirmar, é roxo muito intenso.
Vivi Ame...Viviane Mendes
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