...tadinha.
Diria meu avô ao me ver assim.
Meu avô era a única pessoa que me pegava no colo e me chamava de coitadinha.
Eu gostava.
Aproveitava e chorava.
Ele me chamava de tadinha até meu choro se esgotar.
Engraçado, nem mãe e nem avó faziam dessa forma.
As mulheres corriam, socorriam e sorriam na medida do possível.
Meu avô era quieto, sereno e guardava no cofre alguns documentos, e uma miséria de joias.
A gente era parceiro.
Eu era criança e ele fez eu decorar o segredo do cofre.
Tinha um cofre embutido na parede.
Pensa bem...casa com cofre.
Não tinha tesouro.
Só mistério.
Meu avô, na simplicidade dele, foi alfaiate, entrou como mirím no banco e chegou a diretor do banco Mercantil.
Homem honesto.
Péssimo negociante.
...assim eu escutava.
Hoje, eu fico rebobinando a fita, e chego a conclusão que ele era realmente honesto.
Ao me ver chorar, ele era o único que percebia minha necessidade de desaguar.
E qualquer tombinho, ralada no joelho ou galo na cabeça era a nossa chance.
Eu chorava choro de anteontem.
Foi bom.
A barreira rompia.
Mas...como diziam, era péssimo negociante.
Só eu era favorecida na negociação.
Ele , como sempre, se anulava.
Não tirava vantagem alguma.
O choro dele, era interno.
Meu avô teve doença de Parkinson.
Foi firme, apesar do corpo todo tremer.
Um dia ele caiu e quebrou o fêmur.
Morreu no hospital.
Eu cai dum caixote de 40 cm de altura.
Pisei no canto errado.
Deu nisso.
Mas, aqui, conversando com vocês nesse dia de chuva fina, eu me vejo em liberdade.
A coitadinha, morreu.
Junto com meu avô.
Virei a mãe que trabalhava e a avó que socorria.
Isso porque, eu tinha a senha do cofre.
Me avô me deu colo.
E nessa proteção eu me sentia garantida na vida.
Todo desamparo sumia quando eu lembrava que entre as filhas, as netas...eu era a única que tinha aqueles números decorados na cabeça.
Vivi Ame...Viviane Mendes
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