terça-feira, 11 de junho de 2019

Quem tem medo da mulher do saco preto? Ela se aproximou para pegar as latinhas que estavam na mesa. Diante do meu olhar, que não apenas olhou, mas viu, ela desabafou: -'' Menina...o homem ali do lado me disse: -Sai daqui com esse saco que você está enchendo o saco!'' Assim começou nossa conversa. Ela se chama Anísia, 62 anos, catadora de reciclável. Criou 2 netos com esse trabalho. Ontem era aniversário do filho...que já morreu. Me contou que ele teve uma morte linda. Dormiu e não acordou. Eu concordei que era linda mesmo. Ela, evangélica...conversamos sobre tudo. Ela me absorveu e eu nem olhei para o céu no momento da esquadrilha da fumaça. Eu senti que tinha uma estrela de primeira grandeza ao meu lado. Me contou que o neto que ela criou lhe confessou que era gay. E como foi difícil para ela lidar com o amor e o preconceito. Me contou que cozinha...e que cozinha bem. Perguntei se o saco estava pesado e se ela queria deixar guardado na minha casa. Olhou pra mim...tipo, cê num sabe de nada mocinha. O marido é vivo, mas tem vergonha de sair catando latinha. Conversamos sobre a vida, sobre Deus e sobre religião. Todo mundo olhava para o céu...o barulho dos aviões e suas acrobacias eram o espetáculo do dia. Eu ouvi da dona Anísia o seguinte: A igreja é o coração de cada um. Sua igreja é linda! Me disse emocionada que no meio de tudo eu parei e dei atenção a ela. ...e eu ia olhar para o céu por qual motivo? Hein...Dona Anísia? Viviane Mendes

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