domingo, 9 de junho de 2019

Bastidores da grande festa aqui no Aero: Eu estava até agora ali embaixo conversando com o Denis, o moço cuidador de carros. Ele pretende conseguir uns 60 reais até o final do dia. A coisa por aqui está um furdunço. Meu carro não pode ficar parado na frente da minha garagem. Aliás, quem tiver planos de vir pressas bandas, pare o carro longe. Aqui tem uma muntuera de barraquinhas que vão vender de um tudo. Todos com alguma esperança de voltar pra casa com um troco a mais, assim como o Denis. Eu não sei como vai ser...mas a coisa vai ferver. Conversei com o Denis, ali embaixo...na rua perpendicular a rua que eu moro. Numa esquina...ele me contou que veio a pé lá do bairro Mary Dota pra economizar no ônibus. Peguntei o preço da passagem... Putz...é trêis e tra lá lá. Muita coisa pra muita gente que ganha muito pouco. O Denis tá querendo fazer um bico pra ajudar a desmontar o circo que tem ali pra baixo. Me contou que paga pensão pra mulher. Tem um filho. Tinha bicicleta, mas vendeu...ficou com raiva dela porque caiu e quebrou a costela. Nessa época ele carregava caixas no Ceasa, e precisou ficar de cama, sem trabalhar. Me contou que sabe fazer muita coisa, limpa caixa d' água, pinta casa, carpe terreno...num tem medo de serviço. Perguntei se ele tinha sido preso. Ele me olhou e com confiança confessou: -Não vou mentir pra você, fui sim. ...e abaixou a cabeça. Eu: -Mas o que foi que você fez? Me contou que foi a lei Maria da Penha...e que ele não bateu, só ameaçou a ex mulher dele. ...e meio envergonhado disse que aprendeu a lição. Ficamos ali numa esquina gelada conversando...falamos do Brasil, da política...de como as coisas estão difíceis. A insegurança que a gente vive...tal e coisa, coisa e tal. Eu lhe desejei boa sorte. Subi a rampa até aqui, pensando...sei lá, gosto de gente sincera. Se quando eu for buscar o carro, ele estiver por lá vou pegar o telefone dele, boto aqui neste texto...vai que alguém precise do Denis. Sei que o povo brasileiro é batalhador. Todo mundo que está por aqui na região do aero tá com esperança. Tem uma coisa que eu não sei definir muito bem... Sinto uma mistura de sensações ao ''sentir minha prainha particular invadida''. Tem um palco gigante montado no fundo da minha casa. Eu e minhas conjecturas... '' O que será que vou ouvir? '' ''Na hora que ligar o microfone, pronde vou correr?'' Pensamentos de quem num sabe com o que vai rolar. Tem barraquinhas...barracas e barraconas.....por todo lado. Mas me parece que está bem organizado. Não sei na prática como vai ser. Sabe, eu só queria que o homi dos catavento, vendesse catavento. Que o senhorzinho do algodão doce...vendesse ozalgodão. Que o rapaiz dos aviãozinho de isopor voltasse pra casa sem nenhum aviãozinho. Queria que o Denis conseguisse mais que 60 merréis. Eu queria que esse povo, lutador, que batalha apesar da nossa política canalha, num perdesse a esperança. Pelo menos, alguns vão olhar pro céu para admirar a esquadrilha da fumaça. E...nesse momento eu desejo que a esperança dessa gente brasileira num vire fumaça. E que a quadrilha que está no poder dançando na corrupção, vire só uma inofensiva dança de quadrilha de festa de São João. Viviane Mendes

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