sábado, 24 de abril de 2021
...tinha vergonha de ir buscar a marmita que minha mãe mandava, achava feio carregar aquela armação de alumínio.A marmita era velha e amassada, a tampa era segura por uma borracha preta.Me lembro que sempre vinha repolho refogado.Eu ia torcendo para não encontrar ninguém pelo caminho.As crianças da minha idade andavam de patins, ninguém carregava marmita por 7 quarteirões.Hoje, penso nas roupas tontas que eu usava.Me lembro até de uma belina branca que minha mãe comprou e eu achava feia.Como a gente é besta!!!Eu caia na rua e morria de vergonha, eu era bem desengonçada.Ontem fui ao banco...A porta de vidro num abria, num fechava...Eu batia....até soltei:- que merda de porta!Uma senhora me ajudou a perceber que onde tava escrito PUXE, eu empurrava.E onde estava escrito EMPURRE, eu puxava.Passei do estágio da vergonha.Subi um degrau a ponto de rir...com leveza.A vida que me trouxe até aqui, foi cheia de solavancos.Mantive a coluna ereta, fraquejei algumas vezes.Murchei a barriga com esperança de inflar o peito.Aconteceu que a carga se ajeitou...A vida é sem vergonha!!!O que a gente virou, foi o que deu.Foi o que deram pra gente.A coisa é o que é.Num tem como fingir uma poesia, onde a ironia de uma comédia fajuta não arranca risada.O poema brota donde sobra problema, e a gente resolve com chá de alfazema.Quem diria...eu perdi o medo do ridículo.Escrevo em maiúsculo, as letras que me eram minúsculas.Acho que as lentes do meu binóculo possibilitam o alcance da visão além da merda da porta de vidro do banco.Viviane Mendes
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário