terça-feira, 17 de dezembro de 2019
Nunca fui santa.Meu gingado é mais para bordel do que para o céu....mas as senhorinhas confiam em mim.Sua mãe, sua vó...ou sua tia, senhoras que guardam no fundo da gaveta, ou de um baú, suas relíquias.Essas senhorinhas que guardam o botão por precaução.O retalho do vestido, no caso do esgarçado.A linha que já saiu de linha.Essas senhorinhas me veem como a guardiã de seus bordados.No mundo do pouco feito e tudo comprado, sou aquela que tem a missão de dar nova forma para o que é descartado.As senhoras, avós, benzedeiras, só me olham...nos meus olhos elas sabem do meu jardim.Puxam assunto com silêncio e malícia por comungar do mesmo relicário.Aqui, não tenho as plantas que fazem a moda da jardinagem contemporânea.Eu quero saber qual planta tem afinidade para suportar morar perto do pé de arruda.E se eu arrancar a muda, se ela vai vingar longe do meu altar.Existe em mim uma missão secreta em perpetuar tudo aquilo que não tem mais lugar.Entre miçangas, lantejoulas, botões, retalhos, vidrilhos, encontro talvez o brinco que perdeu o par.Foi guardado para um dia, se transformar em um detalhe e viver, sendo só.Como as viúvas que se reinventam fazendo dos braços do neto seu colar.Um pedaço de renda do vestido de noiva.A renda amarelou o marido morreu.Como tudo que é vivo, esse é o ciclo.Mas...as senhorinhas me dão, como que em forma de oração.Sou a santa que transforma o relicário afetivo que ia para o lixo em arte.Tudo que chega até mim, envolve a confiança e a esperança de que eu eternize a energia de suas memórias.Lembranças que consagram um passado sagrado neste mundo profano.Realmente, isso é coisa de Santo!Vivi Ame
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