terça-feira, 8 de março de 2022

Gritavam:
- Gostosa!
- Quero te comer!!!
A menina seguia pela calçada na rua de paralelepípedo, intrigada.

Não entendia nada.
...me comer?
Como?
Não sou comida.

Com as pernas grossas, recebia olhares masculinos dentro de casa.

Na escola, tinha vergonha do corpo sinuosos.
Um corpo convexo e côncavo. 
Destoava das magrelinhas de perna tipo " armação de marmita"

Eu era a comida.
E comida farta, quente, recém preparada.
Passei pelo desejo masculino e pela inveja feminina. 

Biscate, diziam.

Nada tinha feito.
Que inferno.
Que peso ser mulher gostosa!
Virgem.

Recebia correio elegante com a frase:
" ...sua b* deve ser uma floresta."

Foi exaustivo.
A virgindade para mim, foi um peso.

No mundo masculino que eu vivia, ser mulher gostosa aos 13 anos, foi um fardo que eu precisava me livrar.
Queria entender aqueles olhares, piadinhas, insinuações. 
Ou pelo menos merecer o título de biscate.

E, julgar se ser biscate era bom.
Nem isso eu sabia.
Elogio ou ofensa?

Eu, menina, era mulher.
 A mulher em mim, acolhe a menina.
A mulher que serei, velha senhora, acolhe todas as minhas escolhas.

Não conheci os homens.
Conheci o pensamento masculino.

 Eu mudei, de menina, adolescente, mulher...sou quase uma senhora distinta!

O pensamento masculino, não mudou.
Tá lá,  naquela rua de paralelepípedo.
E olha que até a rua evoluiu para asfalto.

Vivi Ame...Viviane Mendes

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