terça-feira, 15 de junho de 2021

De vez enquando, eu só preciso chorar.Foi um pecado todo choro que eu engoli minha vida inteira para não incomodar os outros.Ninguém tem culpa disso.Foi erro meu.Erro que eu não quero perpetuar.Entendo que ver alguém chorando, desaloja a gente.Achamos que temos que fechar a torneira.Da a impressão que a pessoa tá vazando.Mas a natureza foi perfeita nesse sistema drenagem.Sabe, lágrimas gordas que pulam dos olhos com força e vontade?Daquelas que uma lágrima apenas tem a capacidade de lavar a cara da gente.Esse choro é satisfatório. Choro fininho e contido é como espirro em lugar público. Não debulha as dores.Acho que me faltou ninho. O lugar mais apropriado para chorar é no ninho. Comandando uma batalha, ninguém chora.Mas, né?Eu que deite na fama e na cama da guerreira forte e incansável que eu esculpi.Foi obra de minha autoria.Foi culpa de ninguém, esse mérito eu carrego.Na infância, não chorava porque eu ia ser uma lágrima a mais para encher o balde.A família inteira chorava a morte prematura do meu pai.Eu, acatei isso como meio de vida.Minha amada vó ia me visitar na casa da minha mãe, eu esperava a brasilia beje do meu avô dobrar a esquina para ela não me ver chorar agarrada com as duas mãos na grade baixa do portão da garagem.A rua era de paralelepípedo. Conforme o carro se afastava, meu desespero aumentava.Tinha medo que ela soubesse o quanto eu era infeliz numa casa com um padrasto que nunca me direcionou um olhar fraterno.Muito pelo contrário. Assim, emponderada dessa miséria existencial, fiquei adulta e continuei lendo a cartilha que eu mesma escrevi.Minha mãe com câncer, eu vestida com a armadura de Joana darc, chorava até a esquina.Engolia.Erguia meu estandarte da vitória!Me certificava que meu olho já tinha passado do campari para o dry Martini, e entrava na casa dela feito uma sirigaita feliz, perguntando se tinha café. Sabendo que o câncer avançava, apesar da quimio.Fiquei boa nisso.Afinal, a prática leva a perfeição. E as pessoas não sabem o preço desse represamento lacrimal.Quando eu achei que enfim chegou minha vez de chorar sem me sentir culpada, minha melhor amiga chamou minha atenção porque eu tava chorando a morte do MEU cachorro no portão da MINHA casa....e as pessoas iam ver.Desnecessário, né?Afinal, amodiquê , uma artista conhecida na cidade passar no débito uma vegonha dessa.Só queria ter esse direito.Reiniciar minhas lágrimas...Não foi justo comigo.Eu só quero chorar sem me preocupar se o outro vai sofrer ao me ver chorar.O direito às lágrimas não prescreveu.Sinto que preciso desaguar.Quando e onde eu quiser.Lágrimas internas geram poças dentro da gente.Água pede movimento.Fluir.Ser saudável emocionalmente, é colher o beneficio e o alívio das lágrimas. Me faltou isso na vida.Foi um pecado...Um crime o que eu fiz comigo!A Vivi Ame, é humana.Viviane Mendes.

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