sexta-feira, 12 de março de 2021
...me disseram que ela foi morta por uma pedrada.Foi encontrada caída e junto ao seu corpo, apenas formigas.Pedi que me trouxessem o cadáver.Me chegou limpa.Uma carcaça cuidadosamente limpa.A primeira coisa que tirei foram os pés.Arranquei o bico, guardei as penas.O resto, descartei.As garras com unhas afiadas, fazem dela uma exímia caçadora.Sua visão noturna permite não errar o alvo.Acomodei as garras acima dos olhos, bem no meio da cabeça.Fiz ela segurar duas esferas azul celeste.Estava determinado que ela não precisava de alimento terrestre.Seu olhar é para o alto.O pequeno bico, transformei numa joia.Delicada e quase imperceptível.Dele vertem dois fios dourados que se encontram no seu ventre.Assim foi decidido que ela se nutre dela mesma.Seu tesouro interno em tons de prata, ouro, pérolas e brilhantes são um secreto laboratório alquímico.Não será refém das paixões.Não fará vitimas.Não morrerá a míngua.Suas penas foram distribuídas cuidadosamente pelo seu corpo, de maneira arejada como se mesmo imóvel no galho que sustenta seu corpo, ela pudesse alçar voo.Sem alarde, sem balançar o galho.No silêncio contemplativo da noite.A noite foi pintada com pó de anil.Anil é a cor da luz entre 450 e 480 nanômetros de comprimento de onda, localizada entre o violeta e o azul.Na noite umbralina, muitos medos e sofrimentos são desarquivados de nosso inconsciente repleto de miasmas.Na noite anil, limpa e purificada, a coruja renasce para prosperar como alma.Eu não vendi um quadro.Eu ofereci essa energia.A pessoa que comprou, adquiriu isso sem eu precisar apelar para a linguagem.A coruja ainda não sabe para onde vai.Quem comprou me disse que não tem parede.Ainda bem!Quem compra um quadro assim, só precisa de alma.Uma coruja dessa não foi concebida para combinar com o sofá da sala.Escrevo para a pessoa que adquiriu essa obra. Escrevo para pessoa que limpou e higienizou a carcaça.Escrevo para todos que entraram em contato e se encantaram com esse quadro.Escrevo para mim, que permiti que essa obra fluísse intuitivamente.E, sobretudo, escrevo para quem atirou a pedra, num animal indefeso...Eu proclamo:Ela é imortal.Vivi Ame
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário