Ouvi gritos.Isso não é uma poesia.Misturados com o som dos rojões, percebi que não era uma pessoa que gritava de dor ou de agonia. Eram muitos gritos.Parecia que todo que seguravam o rojão estavam gritando.Nos outros anos, só rojão. Fiquei sentada no chão acalmando as cachorras.Impressionante como as pessoas tem necessidade de estourar bombas.Mas o desespero de sair de 2020 fez com que o som dos fogos precisasse de um aliado:A garganta.Que nível de ilusão!Como se uma borracha fosse apagar a realidade .O ano começa, o calendário mudou.Mas junto com ele tem a bagagem de mão e a que vai chegar.A mala de 2021 foi despachada em cada atitude.O negacionismo, o desrespeito, e falta de empatia.E...cada um que carregue sua bagagem.Pesada ou leve.Sem alça ou de rodinhas.A realidade é um silêncio em gestação. Os gritos exteriorizaram um interno desorientado, e em chamas.As pessoas estavam ardendo por dentro.Não creio que se tratava de um desabafo...como um dragão cuspindo fogo.A questão é:Se tem fogo por dentro, a casa cai.O ano de 2021, dependerá da nossa capacidade de arrumar a mala.Dobrou direitinho a blusa para não amassar?Fechou e lacrou o xampoo?Lotou a mala?Cuidado!Pode explodir o cadeado.A fatura vai chegar.Gritos serão explosões internas.Só o travesseiro vai ouvir.Cuida da sua vida.Compreenda que o coletivo é um avião. Estamos nele.Juntos.Queremos sobreviver.Nossa bagagem vai estar na esteira do aeroporto.Não tenha ilusão. Arruma tua mala todo dia.Todo santo dia.Estamos numa pandemia. Tenha responsabilidade. Vivi Ame...Viviane Mendes