quinta-feira, 30 de junho de 2022

Quero ser a primeira a apontar meus defeitos.
...e a última a proclamar meus feitos.

Dos meus pecados, peço que me chegue a consciência. 
Imploro por coragem!
...para por uma lente de aumento naquilo que devo mudar.

Dos meus feitos, que os outros falem.
E que falem o bem e o mal.
Somos feitos de circunstâncias. 

Me quero limpa.
Sem o pó da falsa humildade. 

Sem o viés político que tapa os olhos.

Me quero sã.
Sem o fel do radicalismo.

Me quero salva.
Salva de mim mesma e da vaidade disfarçada de altruísmo. 

Me quero confortável no sim e no não que escolho a cada esquina.
Sobretudo, me quero brilhando no meu lugar.

Abro mão do peso de ser opaca.
Alma desbrilhosa é um trem que não reconhece seu trilho.

Que sobre minhas costas pese minha consciência. 
E que meus olhos possam reconhecer meu caminho.
Sem tropeçar e nem forçar o que é meu ao outro.
Isso se chama respeito.

Sou traço que com o tempo, se apaga.
Mas, rogo a Deus, que meu ego morra antes de mim.

Da porta para fora, que eu seja serena e atenta.
Da porta para dentro, que tire a poeira que embaça o discernimento.

Se a velhice me for permitida, peço silêncio. 

Que minha presença não tenha que ser tolerada.
...e que minha voz seja um canto de sereia para embalar meus sonhos.

Que assim seja!
Amém. 
Vivi Ame...Viviane Mendes

domingo, 26 de junho de 2022

Não me lembro com que idade fiquei menstruada.
...por volta dos dez, talvez.
⚠️🚫
TEXTO NÃO RECOMENDADO PARA PESSOAS RASAS.

Me lembro dos hormônios em ebulição.

O corpo tomando forma sinuosa.
Me lembro muito bem dos olhares masculinos de TODOS os homens que me olhavam.
De desconhecidos, velhos, amigos de meu avô, até os primos de treze anos.

A culpa não é da erotização infantil.
Na minha época malemá a gente assistia televisão. 

A melhor e mais atual definição escutei da boca de Maria Marruá:
" Homi, minha fia...é bicho que num presta."

 Vamulá...
Eu, a gostosa da escola e da família fui descobrindo como que funcionava.
Dos primeiros agarros e beijos, veja bem, eu não era uma biscate sem vergonha.
Eu era uma menina que descobriu que beijar era bom.
...a primeira vez que a " coisa quase aconteceu", foi com bicho homi de 13 anos.
Pedi para parar.
Ele me disse:
- " Se você gritar, vai vim tudo mundo aqui, daí quero ver você explicar..."

Ou seja, a culpa seria minha.
Felizmente consegui convencer esse, que hoje é um cidadão do bem, político e pecuarista a parar.
Parou.
Podia não ter parado.

A questão é que o assunto aborto desaloja a gente.
Temos sentimentos contraditórios. 

A culpa é da mulher, sempre!

Se ela mata o feto, é uma assassina desalmada .
A mulher é servil até quando é estuprada.
Poderia ser uma incubadora, né não?

Doar o filhote.
Vender, quem sabe?

Desconsideram a vontade do ser que é, em favor daquele que pode vir a ser.
O ser que é, a fêmea, tem mais que um útero. 
Tem vínculos mentais com tudo que envolve seu corpo.
E ela tem o direito de não querer que seu DNA siga por esse mundão de meu Deus misturado com o de um fiadaputaquarqué.

Então, cêis dá licença!

Cêis se resolve aí nas terapia, nas barras de acess, nas constelação, nos thetaling aí da vida.
Sério mesmo.
Tô zoano não. 
Cêis se arrezorve.
Amodi facilita a lida nessa vida maledeta.

Essa ferramentas citadas existem para auxiliar quem precisa delas.
Entretanto, nada vai pra frente, não existe chantagem emocional que desconstrua a culpa da mulher.

A mulher é culpada por menstruar.
A mulher é culpada por querer ser atraente. 
A mulher é culpada por gostar de sexo.
A mulher é culpada por acreditar no método coito interrompido. 
A mulher é culpada e ponto final.

O homi, bicho que num presta, foge.
Foge da paternidade.
Foge da responsabilidade. 
E a sociedade, a família,  a religião dá esse suporte.

Ele segue, com sua " fivela de respeito".
Segue fazendo filhos fora do casamento. 
Segue se orgulhando de sua vidinha de macho.

Concluindo...eu não sou leviana a ponto de não considerar as exceções. 
Alguns homens prestam.

Alguns homens fazem sexo.
A maioria cruza.
...e larga a ninhada.

Vivi Ame...Viviane Mendes

quarta-feira, 15 de junho de 2022

De vez enquando, eu só preciso chorar.

Foi um pecado todo choro que eu engoli minha vida inteira para não incomodar os outros.
Ninguém tem culpa disso.
Foi erro meu.
Erro que eu não quero perpetuar.
Entendo que ver alguém chorando, desaloja a gente.
Achamos que temos que fechar a torneira.
Da a impressão que a pessoa tá vazando.
Mas a natureza foi perfeita nesse sistema drenagem.
Sabe, lágrimas gordas que pulam dos olhos com força e vontade?
Daquelas que uma lágrima apenas tem a capacidade de lavar a cara da gente.
Esse choro é satisfatório. 
Choro fininho e contido é como espirro em lugar público. 
Não debulha as dores.

Acho que me faltou ninho. 
O lugar mais apropriado para chorar é no ninho. 
Comandando uma batalha, ninguém chora.
Mas, né?
Eu que deite na fama e na cama da guerreira forte e incansável que eu esculpi.
Foi obra de minha autoria.

Foi culpa de ninguém, esse mérito eu carrego.

Na infância,  não chorava porque eu ia ser uma lágrima a mais para encher o balde.
A família inteira chorava a morte prematura do meu pai.
Eu, acatei isso como meio de vida.
Minha amada vó ia me visitar na casa da minha mãe,  eu esperava a brasilia beje do meu avô dobrar a esquina para ela não me ver chorar agarrada com as duas mãos na grade baixa do portão da garagem.
A rua era de paralelepípedo. 
Conforme o carro se afastava, meu desespero aumentava.
Tinha medo que ela soubesse o quanto eu era infeliz numa casa com um padrasto que nunca me direcionou um olhar fraterno.
Muito pelo contrário. 

Assim, emponderada dessa miséria existencial, fiquei adulta e continuei lendo a cartilha que eu mesma escrevi.

Minha mãe com câncer,  eu vestida com a armadura de Joana darc, chorava até a esquina.
Engolia.
Erguia meu estandarte da vitória!
Me certificava que meu olho já tinha passado do campari para o dry Martini, e entrava na casa dela feito uma sirigaita feliz, perguntando se tinha café. 
Sabendo que o câncer avançava, apesar da quimio.

Fiquei boa nisso.
Afinal, a prática leva a perfeição. 
 E as pessoas não sabem o preço desse represamento lacrimal.

Quando eu achei que enfim chegou minha vez de chorar sem me sentir culpada, minha melhor amiga  chamou minha atenção porque eu tava chorando a morte do MEU cachorro no portão da MINHA casa.
...e as pessoas iam ver.

Desnecessário, né?
Afinal, amodiquê , uma artista conhecida na cidade passar no débito uma vegonha dessa.

Só queria ter esse direito.
Reiniciar minhas lágrimas...

Não foi justo comigo.
Eu só quero chorar sem me preocupar se o outro vai sofrer ao me ver chorar.
O direito às lágrimas não prescreveu.
Sinto que preciso desaguar.
Quando e onde eu quiser.
Lágrimas internas geram poças dentro da gente.
Água pede movimento.
Fluir.
Ser saudável emocionalmente, é colher o beneficio e o alívio das lágrimas. 
Me faltou isso na vida.
Foi um pecado...
Um crime o que eu fiz comigo!

A Vivi Ame, é humana.
Viviane Mendes.