Carta de despedida:
Um terreirão, ou melhor acho que eram dois ou três na fazenda.
Uma montoeira sem fim de grãos de café secando ao sol.
No final do dia os empregados da fazenda rastelavam tudo e cobriam com uma lona, eu ajudava...adorava.
A lona fica presa com uns pneus velhos para o vento não levar...
E tinha uma tuia, pensa numa tuia bonita...eu ficava me imaginando ''morando'' lá dentro.
Uma casa excêntrica, com uma vista para as montanhas.
Tinha tantos e tantos milhares de pé de café, perdiam de vista.
Eu andava em cima do caminhão de bóia fria...com os braços abertos para receber o vento, no ''estilo Titanic''
.Devia ter uns 13 anos, e esse era meu registro de felicidade e liberdade.
Eu conseguia ver a maravilha do rio Paranapanema ''abraçando'' a fazenda.
Era tanta água, tanto céu, tanto verde e tanta montanha!
Minha avó torrava os grãos de café...o cheiro, ahhh meu Deus, quanta saudade.
Parece que estou vendo o torrador preto manual e minha avó girando a manivela para não queimar os grãos.
Nunca imaginei que o que era comum, ia se tornar um nunca mais.
Essa é minha carta de despedida.
Acho que a memória é uma invenção de Deus para gente revisitar alguns lugares do passado.
Porém, cabe a nós não fazer da memória uma clausura.
Afinal, a vida segue...e agente tem que se apressar e seguir junto.
Muito respeitosamente me despeço dos meus antepassados.
Vou colher meus sonhos longe daqui.
Viviane Mendes
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