Fiz a unha.
(se tratando de mim, um evento)
Desembaracei o cabelo e passei lanolina.
Comi couve, brócolis, rúcula, pepino, melão e atemoia.
Salpiquei um monte de gergelim preto pra fortalecer o rim.
Rim é o celeiro da vida.
É ele que manda prender e manda soltar.
Quero poder cuidar de todos que vivem comigo.
Inclusive eu.
A saúde mental, essa eu faço manutenção no meu quintal.
...vendo minha roupa secando no varal e sentindo o cheiro da comida queimando no fogão.
Meu gato me chamando no telhado.
Cachorro no meu pé
Meu marido me esperando na cama.
Eu esperando que eles me esperem, sempre!
E eu com amor, servindo sempre.
Não me importa as novidades.
Quero o silêncio.
Quero andar a moda antiga.
Fazer minha própria comida.
Reclamar da dor da coluna.
Olhar no espelho e descobrir uma ruga, e falar para mim mesma que ainda dá tempo de acudir.
Como mãe dizendo para o filho que na volta a gente compra.
Mesmo sabendo que não tem volta.
Quero ter acesso a ilusão.
Quero tempo de olhar para o céu.
...e por nome no tom de azul.
Azul fitalocinina.
Azul turquesa.
Azul anil.
Azul ceruleo.
Azul cobalto.
O céu não envelhece.
As cores também não.
O que tem importância é o que nos surpreende.
Hoje, descobri uma nova cor:
Lágrima de Vênus.
É a cor do esmalte que pintei a unha.
Vênus também chora.
Peço licença aos anos.
Não quero ser refém da vaidade.
O que quero é lucidez.
Senso do ridículo.
E um pouco de vergonha na cara.
Vivi Ame...Viviane Mendes